30/07/2006

borboleta


da janela avistei a árvore de sempre.
e de repente vi que estava carregada de flores laranjas,
linda como uma mulher grávida.
e de repente uma borboleta amarela passou.
fez questão de beijar flor por flor
como uma fada madrinha.
e de repente uma britadeira começou a trabalhar,
assustando a borboleta
e me fazendo entrar e fechar a janela.

24/07/2006

ventilado à venda

blogueie sua casa: imagens e textos do ventiladô em design exclusivo para decorar sua casa.

17/07/2006

feijao



era uma vez um menino que teve que ir à cidade vender uma vaquinha, única posse da família, em troca de dinheiro para pagar o médico que salvaria sua irmã, que ardia em febre numa casinha pobre. no caminho do mercado, o menino encontrou um velho com uma solução mais maravilhosa: trocar a vaquinha por feijões mágicos que curariam a irmã instantaneamente! o menino topou na hora. a mãe chorou de desespero ante a estupidez da negociação: a irmã morreria.
o menino jogou os estúpidos feijões pela janela. e descobriu que eles eram, sim, mágicos. cresceram violentamente rápidos em direção ao céu. o menino subiu o pé de feijão em busca do milagre prometido, quando se deparou com uma flor estranhamente bela, que falou com ele. "João, não suba mais. Eu sou Deus e lhe ordeno a voltar e enfrentar as conseqüências de seus atos. a realidade é dura. não há escapismo em magia ou sonho." joão não entendia. como Deus podia lhe dar a opção dos feijões mágicos, condenar a irmã à morte, fazer o pé de feijão crescer majestoso e lhe ordenar a volta humilhado? "Eu sou Deus. Eu, e só Eu, sei até onde os homens podem ir. não há nada lá em cima. não há paraíso, descanso, não há remédio para doença ou alma. creia." João olhou para a flor. sorriu. e continuou a subir em direção ao céu.

FOTO

13/07/2006

ue?



O circo acabou.
O jardim murchou.
Quem vai sorrir pra mim?
Quem vai desabrochar pra mim?
Que vida sem riso.
Que vida sem cor.
Que dia vazio.
Que dia vazio.
E se no caminho tiver alguém que me entenda?
E se no caminho tiver alguém que me acolha?
E se esse alguém sorrir pra mim?
E se esse alguém colorir pra mim?
A vida poderia ser mágica assim.
A vida podia ser mágica assim.
Ué, que bicho curioso é aquele ali?
Ué, que pessoa colorida vem por lá?

11/07/2006

quem


como é que eu faço para tirar o peso das suas costas? a dor da sua cabeça? o cansaço do seu rosto? a decepção dos seus olhos? como faço para levar as pancadas do seu estômago? as rasteiras das suas pernas? como faço para que só meus olhos vejam os amores darem as costas, os amigos darem risadas e os responsáveis darem de ombros? como faço para você ficar apenas com os retornos triunfais, os sorrisos dissolventes, as crianças nos colos e as lembranças de fotos antigas? como faço para você viver só feliz? e, enquanto passo dias pensando nisso, quem é que vai viver a minha vida para mim?

06/07/2006

marginal


sempre achei a marginal perigosa. até antes de saber o nome dela.
vez ao mês, quando ia às compras no supermercado paes mendonça com minha família, acreditava que meu pai era um herói. como ele conseguia pilotar seu incrível fiat 147 entre as gigantes scanias azuis? sim, azuis. eu tinha um medo particular desse modelo. as rodas eram gigantes. eu, da janelinha, observava com medo essas monstruosas rodas girando ao meu lado. medo. mas medo pior foi quando descobri o nome dessa via expressa: marginal. medo maior ainda de fazer as compras do mês. agora meus olhares abandonavam os caminhões azuis e partiam para as calçadas. e se algum marginal pegasse o fiat 147 e meu pai herói?

04/07/2006

frio



frio na espinha na hora de apagar a luz do quarto: dormir sozinho depois de tanto tempo. estranho. cada barulhinho antes ignorado agora vira sobressalto. o vento na janela solta. o vaso que o gato derrubou lá na sala. uma porta de carro na rua de trás. meus olhos ficam abertos na escuridão e eu sei que a noite vai passar em claro. difícil acostumar com a cama vazia. vontade de pegar o telefone. mas a noite já vai longe. e ela também.

vento



tem dia em que eu me sinto criança de novo. saia curta e botinha corretiva. "não faz assim com os olhos: bate um vento e você fica desse jeito pra sempre, menina!!". aí, bate um vento e eu lembro que sou crescida. "uma mocinha". e se um dia tiver uma filha? que medo. que medo de gostar tanto. que medo de ela passar pelos mesmos vendavais. que medo de saber que ela não vai querer segurar sempre minha mão na hora em que der medo nela também. aí bate outro vento. e lembro que eu não sou tão crescida assim. ninguém nunca é. que bom que é sentir o vento no rosto.

piu



de vez em quando, a gente precisa ir até a escada de incêndio. não é só pra jogar fumaça do cigarro lá prá fora. também é prá respirar o ar da rua. olhar pro jardim do museu. e de vez em quando ouvir um piu entre uma buzina e um freio de ônibus. a vida tem que te ventilar. alguém tem que ligar o ventiladô, por favô!